Pernambuco tem pior cenário do Brasil para carteira assinada
No mercado de trabalho formal, a sensação é de que Pernambuco parou no tempo. Mesmo ultrapassada a pior fase da pandemia da covid-19, com a possibilidade de um cenário de retomada das atividades econômicas, o Estado não conseguiu ainda avançar e, destoando do resultado do Brasil, amargou no último mês de abril o pior saldo de empregos formais entre todos os estados do País. A indústria puxou para baixo o resultado e vê com preocupação o processo de desindustrialização que tem se acentuado.
No quarto mês do ano, em 25 das 27 Unidades da Federação houve resultado positivo no Caged. O melhor desempenho foi registrado em São Paulo, com a abertura de 53.818 postos de trabalho. Na outra ponta, figuraram Alagoas e Pernambuco, tendo o Estado o pior resultado para o mês, com saldo de -807 postos de trabalho com carteira assinada. Foram 40.145 admissões e 40.952 desligamentos somente no mês de abril. Na comparação com abril do ano passado, a queda é vertiginosa: naquele ano, o saldo no período em Pernambuco foi de 3.910 postos de trabalho.
No acumulado do ano, o cenário negativo ainda persiste: foram 171.407 admissões e 178.346 demissões, gerando saldo de -6.939 entre os meses de janeiro a abril deste ano. Resultado que deixa Pernambuco com o segundo pior saldo do País no período.
O Brasil fechou o mês de abril com saldo de 196.966, sendo 1.854.557 admissões e 1.657.591 desligamentos. No acumulado do ano, o País ensaia deixar o impacto negativo da pandemia para trás: 7.715.322 (admissões) 6.944.729 (demissões) e saldo de 770.593 postos de trabalho com carteira assinada.
“essa baixa de empregos gerados é uma resposta da retomada que tem sido lenta em alguns setores, principalmente indústria, com impactos ainda da pandemia, e porque esses novos empregos gerados demanda muita qualificação, e Pernambuco tem sido impactado sobremaneira com carência de qualificação de mão de obra”, diz o economista, mestre em Gestão de Desenvolvimento e professor da Nova Roma Daniel Campelo.
A indústria, aliás, tem sido o símbolo do declínio de empregos formais em Pernambuco. O setor foi o que puxou o saldo negativo do Estado em abril, registrando fechamento de 3.465 vagas de trabalho com carteira assinada, sem levar em a conta a indústria de construção civil (que teve saldo positivo de 547 postos. Somente a indústria de transformação registrou – 3.409 vagas.
“Isso pode ser justificado por alguns fatores. Primeiro é que a gente está com dificuldade muito grande em conseguir matéria prima. Quando consegue, o preço é muito elevado, isso acaba afetando a produção industrial. Os dados mais recentes da produção industrial (janeiro a março) mostram que a indústria pernambucana produziu 6,1% menos do que o mesmo período do ano passado. Se produz menos, precisa de menos mão de obra e isso faz com o saldo de emprego da indústria no Caged seja reduzido. Outro fator é o impacto da guerra no leste europeu, que afetou inclusive o preço dos combustíveis. Além disso, há altos índices de inflação, ultrapassando os dois dígitos em 12 meses, e isso faz com que a população consuma menos, restringindo o consumo ao que é essencial, como alimentação”, detalha o economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) Cézar Andrade.
Se a população está consumindo menos, o comércio varejista demanda menos a indústria, que reduz a produção e corta empregos. Esse é o ciclo vicioso que contamina toda a cadeia.
O desafio maior para Pernambuco é que a situação não começou a se agravar agora. Dados da RAIS apontam que a indústria pernambucana, somando a construção civil, representa 18,13% do mercado formal em Pernambuco, sem a construção passa para 14,5%.
“Em 2014, a indústria mais construção civil representava 21,55% do mercado formal e hoje está em 18%. A gente caiu pouco mais de 3 pontos percentuais nos últimos oito anos. E também observamos o processo de desindustrialização da indústria pernambucana, uma vez que em 2002, quando iniciou a série histórica, a participação da indústria no PIB era de 22.84%, e hoje, pensando em 2021, estamos 20,3%. A gente vê um processo de desindustrialização da indústria pernambucana nos últimos 20 anos e observa em dados da RAIS que a indústria vem perdendo espaço sim no mercado formal”, diz Andrade.
Além da indústria, no Estado houve saldo negativo na agricultura (-743). Serviços tiveram saldo positivo (2.564). Comércio, saldo de 290 postos.
Dados do Recife
Diferente do resultado estadual, o Recife teve pelo quarto mês consecutivo alta nos postos de trabalho com carteira assinada. Em abril, no comparativo com março, foram criados 1.829 empregos, uma alta de 0,36%. Nos quatro meses deste ano são 8.014 trabalhadores entrando ou retornando ao mercado de trabalho formal no Recife, um crescimento de 1,61% no comparativo com o mesmo recorte do ano passado.
Em números absolutos, o saldo de 1.829 empregos é resultado de 15.575 admissões e 13.746 desligamentos no mês de abril. No recorte setorial, o setor dos Serviços segue responsável pela alta na geração de empregos no Recife, pela estrutura vocacional da economia da cidade. Do saldo mensal total (1.829), 1.272 foram contratados pelo segmento. Construção (330), Comércio (150), Indústria (78) e a Agropecuária (-1) completam a conta.