Brasil

Grande mídia pinta encontro Luiz Inácio Lula da Silva-Donald Trump como vitória, mas realidade é outra

Brasília / Washington – O recente encontro entre o presidente do Brasil, Lula, e o presidente dos EUA, Donald Trump, em Kuala Lumpur durante a cúpula da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) foi amplamente retratado pela grande mídia como um marco positivo nas relações entre Brasil e Estados Unidos.  Porém, uma análise mais atenta mostra que não há praticamente nada definido — nem cronograma concreto, nem garantias firmes — apesar do entusiasmo midiático.

O que a mídia mostrou

Várias publicações destacaram declarações otimistas de Lula, dizendo que Trump teria “garantido” um acordo comercial entre Brasil e EUA.  Reportagens ressaltaram o clima amigável e até o “bom entrosamento” entre os dois líderes.  Alguns veículos focaram no palco simbólico do encontro: na Malásia, em ambiente internacional, longe de Brasília ou Washington, reforçando a ideia de que “algo mudou”. 

A realidade nos bastidores

Apesar do tom otimista de Lula, Trump foi mais cauteloso: disse “não sei se algo vai acontecer, mas veremos”.  Não há cronograma público ou documento vinculativo que detalhe quando ou como esse suposto acordo será implementado. As negociações envolvem temas espinhosos: tarifas elevadas impostas pelos EUA ao Brasil, acusações de interferência diplomática, sanções.  O “momento bom” do encontro parece mais simbólico (foto dos dois líderes, aperto de mão, comunicações para a imprensa) do que substancial.

Por que a mídia pode estar exagerando

A cobertura tende a preferir narrativas simples: encontro + sorrisos = “aliança renovada”. Isso cria uma impressão de progresso que pode não existir de fato. Líderes frequentemente fazem declarações públicas positivas (“ótimo encontro”, “conversas produtivas”) mesmo quando as divergências permanecem. O relato otimista serve para enviar sinais diplomáticos, mas não substitui negociações concretas. Em diplomacia, expectativas são gerenciadas: um “acordo iminente” vende bem para o público, mesmo que o prazo seja vago ou as condições complexas. Há forte motivação política, para ambos os lados, de mostrar que “algo está avançando” — Lula diante de uma base doméstica que espera resultados; Trump diante de um eleitorado que valoriza acordos internacionais visíveis.

O que está em jogo

Para o Brasil: tarifas elevadas impostas pelos EUA a produtos brasileiros, que afetam economia e exportações.  Para os EUA: recuperar terreno comercial, estabilizar relações com parceiros estratégicos na América Latina, e ao mesmo tempo gerir alianças políticas. Para ambos: credibilidade internacional e interna, uma vez que promessas sem cumprimento podem gerar desgaste.

Embora o encontro entre Lula e Trump tenha sido amplamente divulgado como um avanço significativo, os fatos mostram que não há nada garantido além de intenções gerais. As divergências ainda são grandes, as tarifas continuam, as negociações começam agora — e não há “assinado e selado”. A grande mídia talvez esteja vendendo expectativa mais do que realidade.