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Juros altos devem travar atividade econômica no novo governo

O mercado esperava que os juros começariam a cair em março, mas essa aposta perdeu força diante da expectativa de piora no quadro fiscal e da maior resistência da inflação, principalmente a de serviços — que deve encerrar o ano em 8%, acima dos 5,7% projetados para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2022. A inflação de serviços tem impacto em 35% do IPCA e depende do mercado de trabalho e da demanda, destaca Silvia Matos. “Com a política fiscal desancorada, será preciso mais juro para pressionar a inflação para baixo. A única coisa positiva, embora triste, é que o efeito negativo de uma política fiscal desancorada aparece muito rápido”, alerta a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Analistas também demonstram preocupação com as sinalizações de intervencionismo, como a mudança na Lei das Estatais aprovada pela Câmara dos Deputados, reduzindo de 36 meses para 30 dias a quarentena exigida de políticos para ocuparem cargos nessas companhias — o que amplia as chances de aparelhamento das empresas públicas. Na avaliação de Silvia Matos, tudo indica que o mercado e a sociedade não permitirão a repetição dos mesmos erros do passado, tanto que o Senado Federal, até agora, segurou o projeto.
Evandro Bucccini, diretor de Crédito Multimercados da Rio Bravo, ressalta que, diante das incertezas crescentes em relação ao novo governo, principalmente na área fiscal, não é possível descartar alta dos juros em 2023, e alerta para impactos na economia. “Não é o cenário provável. Nossa projeção é de corte, mas boa parte do mercado fala em estabilidade dos juros ao longo do ano. Tudo vai depender do cenário doméstico.”
“Os juros estão muito altos, e não estamos vivendo um aquecimento que justifique uma desaceleração mais constante”, acrescenta. Ele lembra que, com a expectativa de inflação de 2023 e de 2025 subindo novamente nas projeções do boletim Focus, o BC não tem muito o que fazer, a não ser aumentar os juros se o novo governo não ajudar.