Brasil

Justiça decreta prisão temporária de 3º suspeito das mortes de Dom e Bruno

Em novo laudo da perícia, a Polícia Federal (PF) afirmou, ontem, que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram mortos com tiros no tórax com munição típica de caça. A região em que ocorreu o crime, o Vale do Javari, no estado do Amazonas, é conhecida pela presença de caça e pesca ilegal. Também no sábado, o terceiro suspeito de participação no assassinato, Jeferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”, se apresentou à polícia e foi preso em Atalaia do Norte. Lima tinha um mandado de prisão expedido pela Justiça do Amazonas e estava foragido desde sexta-feira.

Segundo os peritos do Instituto Nacional de Criminalística de Brasília, Bruno foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax, e Dom uma vez, no tórax. Em nota, a PF detalhou a causa do óbito do repórter: “traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (um tiro)”.

Ainda segundo a Polícia, Bruno Pereira sofreu “traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (dois tiros) e face/crânio (um tiro)”.

A perícia também confirmou na manhã de ontem que parte dos restos mortais encontrados eram de Bruno. A identificação do jornalista Don Phillips já havia sido confirmada na noite de sexta-feira. Ambas foram possíveis após exame da arcada dentária. Comparações entre exames odontológicos entregues pela família do indigenista e a arcada dentária recolhida pelos policiais federais confirmaram a identidade de Bruno.

O mesmo procedimento foi usado na identificação do jornalista. No caso de Dom, houve ainda a análise de impressões digitais e características físicas, método conhecido como “antropologia forense”.

Não foram encontrados indicativos da presença de outros indivíduos em meio ao material que passa por exames. Dentro dos próximos dias, os peritos devem seguir métodos complementares para a identificação completa do material remanescente, para então reconstruir a dinâmica de como ocorreram os assassinatos.

O comitê de crise que atua no Amazonas continua atuando frente às buscas pela embarcação que era usada pelos dois no dia do desaparecimento. O barco foi afundado no Rio Itaquaí, após as vítimas serem mortas. Na última quarta-feira, Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, um dos suspeitos no caso, apontou o local onde a embarcação foi afundada. Ele confessou para a polícia o assassinato de Bruno e Dom em depoimento.

Segundo a PF, o terceiro suspeito de participação no assassinato, Jeferson da Silva Lima, será interrogado pelos investigadores e, em seguida, encaminhado para audiência de custódia. Segundo o delegado do município, Alex Perez Timóteo, ele estava na cena do crime e participou ativamente do duplo homicídio.

 

Jeferson se junta ao irmão, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, também chamado “Pelado”, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, presos por envolvimento na morte e na ocultação dos corpos. Até o momento, apenas Amarildo confessou o crime.

 

Manifestação

Indigenistas e sertanistas seguem demonstrando indignação e repúdio em relação ao caso. Representantes das famílias Villas Bôas e Meireles, que contam com integrantes que fizeram história na defesa das mesmas causas de Bruno e Dom, protestaram contra a “omissão e o descaso” do governo perante o crime. “Atividades ilegais e ameaças já haviam sido denunciadas por Bruno às autoridades e nada foi feito. Em um governo que é conivente com madeireiros, garimpeiros, invasores de terras indígenas, a omissão não foi descaso, mas método”, diz a nota.

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), esteve em Manaus neste sábado para evento com apoiadores e religiosos, mas não teve nenhum compromisso na cidade relacionado ao caso.